a propósito de Conferência de Imprensa


“Música de elevador da política” por António M. Feijó


Conferência de Imprensa põe em evidência uma forma de discurso público contemporâneo que, pelo ruído que produz, se tornou quase ubíquo. Este tipo de discurso é fortemente formulaico e trai uma incapacidade de pensar consecutivamente por mais de alguns segundos – quando pensa, aliás, é apenas sobre como evitar os obstáculos que inadvertidamente vai criando para si mesmo, havendo exemplos de grande virtuosismo neste tipo de evasiva. As fórmulas a que recorre tornam-se, com o tempo, ligeiramente cómicas, imitadas com acinte pelos destinatários, e reproduzidas com zelo pelos que entretanto se vão iniciando nessa forma da arte da persuasão. A peça de Alvaro García de Zúñiga é sobre essa música de elevador da política, sobre os fins letais que o pechisbeque do discurso tantas vezes encobre. A agudeza do autor localiza muitas destas séries de palavras em situações inofensivas e até aparentemente joviais, como é o caso de actores a falar sobre o ambiente divertido em que decorreu a rodagem do filme que promovem, sobre como fulano, apesar da fama que o precede, se revelou, no set, aberto a tudo, carinhoso até. Este tipo de discurso ganha em ser amplificado ad nauseam, em ser morto por exaustão, mas Zúñiga tem outros alvos a abater, e a peça ganha maior amplitude no grotesco pseudo-enredo geopolítico que se lhe segue. O objectivo é, todavia, o mesmo: formas de persuasão pública, enunciados sem fim, reveladores de, na apta expressão de Lautréamont, “uma enorme quantidade de importância nula”. Que isto seja feito com uma maravilhosa verve cómica deixa-nos na peculiar situação de querer ouvir mais do que tantas vezes queremos deixar de ouvir.


Conferência de Imprensa

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