MMIX| 2010 é um projecto de implementação da obra de Alvaro García de Zúñiga : Manuel em cena, um "manual" sobre como se ser/estar em cena e na vida através da(s) linguagem(ns), através da(s) língua(s), das forma(s) e conteúdos que nos de(s)/in/formam.
Destinado a ser um viragem na nossa actividade artística "Manuel em Sena | MMIX" pode ser entendido como um processo que se evidencia. Uma interrogação que não procura resposta a um (de)vir sobre cena e no Mundo. Autópsia de um cérebro (quase) vivo, é um parêntesis trágico e a mesmo tempo divertido num percurso no qual somos o ponto de partida e de chegada.
A concretização pode parecer um jogo, uma equação a várias enigmas e variáveis variáveis feita de tudo/todos o(s) que se juntar(em) a nós.
Na base Manuel – obra plástica – é um manual, um Manuel/al de instruções que fala em várias línguas, mas será que elas se equivalem? Segue uma peça acústica, na qual Manuel – meio-homem, meio manual – tenta compreender a vida através dos livros e através da vida os livros. Nada feito. Astronauta inventa biografias para si próprio. Adivinha na matemática a verdadeira linguagem da natureza. Moribundo fala em hieróglifos. É assim que Manuel entra em literatura; de onde depois salta para a cena, tornando-se "actor/personagem/espaço" com vários corpos e várias línguas que se esforça por ligar "todos os aquis e todos os agoras" onde tudo pode ser (de)mo(n)strado e pode ter um ou vários manuais de instruções.
Com a cumplicidade permanente de Alínea B. Issilva e de quem se quiser juntar propomos abrir regularmente Manuel ao público e com o público pois este Manual onde tudo cabe é também um ponto de passagem.
Há no entanto algumas constantes: a língua é a sua matéria prima pois " Quando Manuel chegou, a língua já là estava". No entanto, neste Manuel multilingue, a estrangeira é afinal a principal.
Em maio de 2009, pela mão de Arnaud Churin, Manuel abre o Festival de Poesia Sonora da Maison de la Poésie em Paris. Torna-se "Manuel de Peaux et Scies" com a participação de todos os amigos parisienses políglotas e glotas de línguas distantes. Será também um manual da obra alvariana, a apresentar depois noutros sítios...
Literatura musical, poesia sonora, rádio sobre cena, teatro polifónico, são etiquetas possíveis para "Manuel sobre Cena", mas pode também tornar-se filmthéâtre, « Paroles sans acte », « Chants-sons sachant que presque sens sons », « mots, sons et moissons », ou ainda « lit, ratures ».
Encontros com o público :
Manuel está no coração da problemática do "ser" estrangeiro e nessa qualidade reflecte sobre a percepção, e sobre a captação/fixação da palavra escrita e dita. Tenta compreender e explicar como domesticar o pensamento e a linguagem através de instrumentos fabricados para esse efeito : canetas, microfones, máquinas de captação, computadores, gravadores de áudio e de vídeo e qualquer outro objecto que possa servir para armazenar e reproduzir ...
Depois atira-nos a bola e volta a apanhá-la pois alimenta-se de si-próprio e de tudo o que encontra, injectando e re-injectando a sua própria matéria, contaminando tudo. Afinal Manuel é um manual das pontes entre todo aqui e todo algures, entre todo agora e todo outrora, entre uma língua e outra... É um Manuel de inclusão, onde, cada um pode participar pois somos todos máquinas de captar, armazenar, reproduzir, traduzir a própria percepção.
Os encontros com o público integram-se no processo de trabalho e visam permitir-nos testar ideias e escolhas que contribuem para a construção de uma forma para Manuel, ou antes de um formato.
"Manuel sobre Cena" é uma peça a geometria variável na qual vários elementos podem ser integrados, tanto no que respeita aos participantes-intérpretes como aos meios utilizados. À parte os encontros "directos" com o público, as ondas e a tela, a rádio e a net, são extensões naturais de Manuel.
Manuel tem antecedentes que nos servem de modelo e de base de trabalho para imaginar a sua continuação sobre cena e a organização de encontros com o público enriquecedoras e formalmente balizadas.
O primeiro "Manuel" é uma compilação de frases extraídas de manuais de instrução, cujo resultado é ele próprio um manual de instruções do livro-obra "A Finger for a Nose" - ou de outro objecto qualquer à escolha do seu proprietário. O segundo "Manuel" – uma trilogia radiofónica produzida no Estúdio de Arte Acústica da WDR3, Colónia – foi interpretado por Leopold von Verschuer e Alínea B. Issilva e por dezenas de vozes de colaboradores no projecto com especialidades diversas (linguísticas, científicas, técnicas...) ou simples entrevistados.
A terceira forma de Manuel ( : sobre cena) foi também objecto de várias experiências "Manuel unterübersetzung" (2005, Goethe Institut de Lisboa) composto de excertos da peça acústica "Manuel" e de leituras por Leopold von Verschuer e Alínea B. Issilva ; "Manuel em Kreutzberg" (2006, Theater Discounter, Berlim) que teve também por base a peça "Manuel", e as presenças de Leopold e Alínea, aos quais se juntaram Matthias Breitenbach, o artista gráfico Oliver Grajewski e o violoncelista Bo Wiget ; "O Corpo do Delito |Corpus Delicti" (2007, Akademie der Künste, Berlim) com Leopold von Verschuer, Matthias Breitenbach, Alínea B. Issilva, baseado na versão acústica da peça "O Corpo do Delito". E finalmente com a designação "Manuel sobre Cena" e em colaboração com Arnaud Churin e Emanuela Pace e muitos outros intérpretes que se foram juntando a nós, ocorreram já 6 apresentações, 1 em Lille, 2008, Theâtre Le Prato, 3 em Paris, 2009, Maison de la Poésie e 2 em Lisboa, 2009, Teatro Taborda.
Como se vê Manuel é algo camaleónico mas sem por isso perder a sua especificidade, muito pelo contrário.
Quanto aos encontros com o público poderão revestir-se de várias formas indo da simples leitura, ao atelier, passando (consoante a disponibilidade dos Manuelinos) por todo tipo de leitura-espectáculo-performance-concerto a dupla via pois dobrado pela participação do público que será sempre bem vindo para nos ajudar a traduzir e a transpor palavras e conceitos – e porque não gestos – de uma língua para outra(s). Pois Manuel é, por definição, um migrante e a sua língua materna é em estrangeiro. Falando directamente em tradução as possibilidades de reencontrar o/um texto original são infinitas, e Manuel conta com o apport de todos e cada um para encontrar a chave da sua improvável busca. Tudo isto "fixado" em áudio, vídeo – os dois se possível – de forma a se poderem incorporar os materiais recolhidos durante os encontros nas representações de "Manuel sobre Cena".
Os encenadores das leituras, ondas, espaços dos encontros podem variar, em particular contamos com a cumplicidade dos « Manueis » Churin, Issilva e von Verschuer ...
No fim, se tudo correr bem, editaremos apoteoticamente o livro de "Manuel".
... e MMIX é também:
A theoretical model of computer, which can be used for different purposes: learning of computer principles, explanation of software foundations, exploring the efficacy of algorithms etc. The author of MMIX is the famous scientist Donald Knuth.
Sobre Manuel ver :
A propósito de Manuel em Sena por AGZ
Manuel é um estaleiro. Um work in progress, um monte de tralha. por Manuel-Arnaud Churin
Manuel na Casa da Poesia, ou Manuel de poesia-caseira
Manuel no Festival de Poesia Sonora da Maison de la Poésie em Paris
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