Manuel apresenta-se : meio-homem – meio-manual de instruções, como uma interrogação insistente sobre a vida e sobre a espécie que somos sobre terra. Espécie falante é à linguagem e à percepção que Manuel se ataca. E fá-lo a um tal ponto tal que isso parece mesmo tornar-se universal, à nossa escala, claro está, que é pequena e global ao mesmo tempo. Assim Manuel/Manual é um formato, a música é a sua tela de fundo e a partir daí declina-se sem fim. À procura de sentido? de sons? A questão do sentido é que está em toda a parte, inevitável, armadilha ontológica na qual não conseguimos deixar de cair ! E então Manuel/al volta a erguer-se, forte de novos sentidos que se espelham... ao infinito? Pois era bom que algures isso pare, se fixe. Era bom que que universal e infinito se distinguissem por fim. Esse parece ser o combate de Manuel-moinho de palavras – D. Quixote da aurora do século XXI, arauto de tempos passados e precursor de um tempo futuro. Mas é no som que Manuel se detém alguns instantes. É no som que encontra as forças para continuar; e nós com ele, que o acompanhamos desde há séculos nessas provas formidáveis de paixão, piscares de olhos, ironia, generosidade, sabedoria, loucura, que as palavras mal d'escrevem...
Como todos os Manuais, este manual de instruções sobre cena é multilingue na sua tentativa de entender o mundo através do que lê e o que lê através do mundo. À medida em que evolui vai tentando estabelecer pontes entre todos os "aquis" e todos os "agoras", entre todas as línguas e formas de expressão. Manuel, em trânsito, é trans-cultural e trans-disciplinar.
Manuel tem um texto de base que é a "partitura" da peça acústica radiofónica Manuel. Nesta partitura misturam-se excertos de um grande número de manuais de instrução com o manual do próprio Manuel, textos de Alvaro García de Zúñiga e outros textos seleccionados por ele. O material de base é vasto e maleável permitindo elaborar a cada apresentação "Manueis" adaptados às circunstâncias que se apresentam.
O resultado destas performances pode portanto ser muito variado consoante os participantes e o seu número – até hoje "Manuel em cena" foi representado por entre 2 e 23 intérpretes de cerca de 20 nacionalidades diferentes – ; segundo as "disciplinas" implicadas : teatro, música, artes plásticas, arte acústica, vídeo ; segundo o número de línguas faladas, a local sendo no entanto privilegiada, e também segundo os convidados especiais que se juntam a "Manuel".
Manuel é um estaleiro. Um work in progress, um monte de tralha. por Manuel-Arnaud Churin
Manuel Lasuite
De entre :
Wénic Dominique Pierre Béaruné, Alínea Berlitz Issilva, Luciana Botelho,Arnaud Churin, Hindol Deb, Silke Geertz, Rocco Giordano, Zakaryias Gouram, Daniel Kientzy, Felhyt Kimbirima, Johanna Korthal Altes, Marie Kraft, Millaray Lobos, Emma Morin, Yumi Nara, Emanuela Pace, Dominique Parent, Nira Pereg, Eric Pessan, Sophie Plattner, Denis Pourawa, Myrto Procopiou, Guillaume Rannou, Yves Rousguisto, Nicolas Struve, Leopold von Verschuer, Liu Yan ...
Encenação : Arnaud Churin e Alvaro García de Zúñiga
ver The "M" Team
Manuel Lasuite # Tempo >< Espaço
Manuel em cena é uma peça "light", uma "forma ligeira" que alia a uma lógica teatral um espírito de concertista de música clássica. As performances preparam-se em grande medida no local da representação em 8 dias de trabalho.
Nenhum cenário, apenas o mesmo número de estantes (porta-partituras) que intérpretes.
Manuel tirará partido do que encontrar. Reinventando-se a cada performance.
manual do manuel # descrição
Estamos todos vestidos de escuro, como os instrumentistas num concerto de música clássica. A nossa frente há tantas estantes como pessoas. Cada um executa a sua partitura...
Este "coro", vai tentar "Compreender a realidade através dos livros e vice versa, os livros através da realidade e vice vice através da realidade a realidade e versa versa através dos livros os livros" (excerto da partitura de "Manuel").
Por via de uma escrita dinâmica e por vezes musical o texto ouve-se por contraste. No meio da papa do manual de instruções que soa como uma mensagem publicitária, alguns farrapos de sentido començam a fazer-se ouvir. Os espectadores que viram uma apresentação das nossas experiências dizem-nos que entraram numa loucura em que se reconhecem. Há em cada um de nós esta vontade de compreender que é reenviada à opacidade do mundo. Para além disso o dispositivo, entre concerto e peça de teatro cria um momento aberto sem verdadeira conclusão formal.
A cada representação, segundo os diferentes programas, Manuel incarna-se cada vez mais, um dos intérpretes representa-o mais particularmente, procura essa compreensão do todo, as línguas, os objectos, as indicações que deve seguir. Dissolve-se nesse labirinto de sentido em que mesmo a sua biografia é polifónica, reduz-se e acaba por falar em hieróglifos....
Alvaro García de Zúñiga através da sua escrita tão singular obriga os intérpretes, os espectadores a inventar.
Somos muito mais cosmopolitas do que pensamos, reconhecemos as línguas e caminhamos na floresta de todos os sons de todas as línguas... e o sentido surge como o entrelaçar do sensual e do sensato.
ver também :
A propósito de Manuel em cena por AGZ,
Manuel na Casa da Poesia, ou Manuel de poesia-caseira &