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A caminho de Bercelona – Roque Guinart – Cláudia Gerónima – a morte de Dom Vicente – a restituição do roubado – a equidade de Roque – o reparto do botim – a chegada a Barcelona.
  
  
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TEMA : A lei e os fora da lei – Estado e anarquia - Barcelona
  
Sessão 49 – Segunda, 24 de Fevereiro de 2014, 21:00 – Leitura dos capítulos 48 e 49 da ''Segunda Parte do Engenhoso Cavaleiro Dom Quixote de la Mancha.
 
  
  
  
  
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''Yo he dado en Don Quijote pasatiempo''
 
 
''al pecho melancólico y mohíno''
 
  
''en cualquiera sazón, en todo tiempo… ''
 
 
Cervantes
 
 
'''''Viaje del Parnaso'''''.
 
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No original, Cervantes começa o capítulo 48 da segunda parte do Quixote assinalando mais uma vez que a passagem entre dois episódios não coincide necessariamente com a divisão dos capítulos. Neste caso, ''"además"'', Cervantes, que começa justamente por este mesmo adverbio, faz alusão directa ao comentário que ele mesmo tinha feito nos versos 22 a 24 do quarto capítulo do seu Viaje del Parnaso. Se faltasse ainda alguma prova do monumental puzzle de materiais e (auto)referencias com o qual o autor compus este livro ímpar, fique aqui mais uma pequena amostra.
 
 
 
O recurso a digressão, ''además'', mostra também a autonomia que Sancho tem ganhado nesta segunda parte da obra, até chegar a plena independência nestes capítulos referentes a ínsula Barataria. Sem ele, o seu lugar será neste capítulo ocupado pela Dona Rodrigues, e o capítulo todo será composto como se de um passo de entremez se tratasse. E não faltara nele nenhum dos ingredientes com os quais estes eram construídos, nem a lembrança clássica aos amores, nem a critica as donas, nem as figuras estranhas e tipificadas, e nem sequer o final a escuras e o enxerto de porrada.
 
 
 
''Además'', ainda há mais: sobre esta teia, Cervantes, pinta ainda certos elementos essenciais e característicos de toda a obra. Assim, o cavaleiro que espera ver-se confrontado com Altisidora para encontrar-se frente a uma Dona que por sua vez confunde com uma aparição diabólica reflecte perfeitamente o contraste entre a imaginação e a realidade, e bem que possa parecer atenuado, não difere em muito com quem confunde rebanhos com exércitos ou molinhos com gigantes.
 
 
 
Cervantes não se priva, nem nos priva a nos, de incluir dentro desta historia outras historias e situações que ficam nela encaixadas, como é o caso de, dentro da historia da Dona e a da filha que ela vai-nos contar, incluir a do marido, ou a do aguazil, dando com isto, ''además'', um ar de sucesso real àquilo que é referido. Também não deixa de tocar no tema das relações entre classes sociais, assunto este que reaparece uma e outra vez de maneira mais ou menos explícita e especialmente neste período no palácio e, dentro deste, aquele que é o da estancia de Sancho na ínsula. Tudo um jogo de caixas chinesas onde as coisas e os temas e assuntos se encaixam os uns nos outros.
 
 
 
Neste caso, Cervantes chega incluso a referir a cumplicidade e aliança entre a nobreza e o campesinos ricos, tema típico de boa parte do teatro da época, ao fazer-nos saber que o duque não intervenha na demanda de Dona Rodrigues devido a que o pai do sedutor da filha ''«le presta dineros y le sale por fiador de sus trampas...»''.
 
 
 
''Además'', o que no começo da obra parecia afectar só a Sancho, a saber o contagio da loucura de Dom Quixote, parece ir afectando já agora em maior ou menor medida a todos aqueles que de um modo ou outro se relacionam com o nosso cavaleiro. Como já sabemos uns intentando fazer voltar o herói a realidade, outros com a escusa das burlas, e outros ainda, como Dona Rodrigues, quase que directamente: dir-se-ia que a loucura de Dom Quixote atrai e revela outras loucuras e com isto parece como se a realidade de mais em mais coincidisse com a loucura e paradoxalmente só a mistura de ambas permitisse encontrar uma solução positiva aos assuntos, aquilo que hoje chamamos sustentabilidade...
 
 
 
 
 
Chegamos assim a ronda nocturna de Sancho. Com ela, no capítulo 49 Cervantes volta a encontrar-se uma vez mais com o problema de como fazer para dar credibilidade ao facto de ter que atribuir ao iletrado escudeiro uma linguagem que dificilmente lhe seria natural. E outra vez encontra uma solução brilhante e original: ''“Todos los que conocían a Sancho Panza – nos diz Cervantes – se admiraban oyéndole hablar tan elegantemente y no sabían a qué atribuirlo, sino a que los oficios y cargos graves o adoban o entorpecen los entendimientos”''. E uma vez mais, o autor que já tinha passado por encontrar até ''“soluções apócrifas”'' e de atribuição duvidosa, consegue surpreender-nos com o seu leque de invenções, sempre geniais e únicas. O tema da ronda já aparecia em alguma novela picaresca e em alguns entremezes, nestas obras as rondas dão lugar a uma profusão de burlas que sofrem guardas e alguazis de justiça que neles se encontram. Dos três casos que Cervantes expõe na Barataria, só parece fazer referencia a esse mundo o cómico dialogo entre o governador e o jovem ''“tecelão de ferros de lanças”'' – expressão esta alias, que muito provavelmente tenha conotações eróticas sobre tudo que depois faz referencia a um provável futuro encontro nessa saída a “apanhar ar” a qual o moço se dizia destinado.
 
 
 
Um tom muito diferente tem os outros dois o do jogador ganancioso e o terceiro, o mais desenvolvido deles todos e que não deixa de relembrar até na sua apresentação as historias e  aventuras novelescas. A linda jovem vestida de homem, tão referenciada em toda a literatura da novela de aventuras e dos comediógrafos da época – basta pensar no próprio Cervantes do Persiles e no Shakespeare da maioria das suas comedias – tal vez tente fazer o leitor predispor-se a algum enredo sentimental ao estilo do de Dorotea. Assim,. Incluso, parece entender-lo o próprio Sancho – ''«¿...no os ha sucedido otro desmán alguno, ni celos, como vos al principio de vuestro cuento dijistes, no os sacaron de vuestra casa?»'' – mas não haverá tal e a aventura à qual podia esperar encontrar-se o leitor revela-se uma simples escapadela infantil : Barataria finalmente não é o mundo do revês nem a ilha da Utopia, nem tão pouco um lugar no qual se de nascimento a quaisquer aventura ou enredo literário.
 
 
 
Uma última remarca, muito pessoal e sem nenhuma base de sustentação: e não será a ronda nocturna de Sancho que em certo modo tenha dado origem ao maravilhoso quadro de Rembrandt pintada por volta de 1640-42? A pesar do serio ao que a célebre pintura parece referir, o facto de nele se encontrar só uma jovem – que disse-se poder ser o retrato da primeira mulher do artista morta de tuberculose nesse mesmo ano de 42 – entre todos os homens finalmente bem poderia ser uma ligeira pista. E nos conhecemos muito bem e já temos falado muito das maravilhosas edições tempranas do Quixote em flandres...
 
 
 
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AGZ
 
 
23 de Fevereiro de 2013
 
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[http://cvc.cervantes.es/literatura/clasicos/quijote/edicion/parte2/cap48/default.htm CAPÍTULO XLVIII]
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[http://cvc.cervantes.es/literatura/clasicos/quijote/edicion/parte2/cap60/default.htm CAPÍTULO LX]
 
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[http://cvc.cervantes.es/literatura/clasicos/quijote/edicion/parte2/cap49/default.htm CAPÍTULO XLIX]
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[http://cvc.cervantes.es/literatura/clasicos/quijote/edicion/parte2/cap61/default.htm CAPÍTULO LXI]
  
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[http://users.ipfw.edu/jehle/cervante/csa/articf86/weber.htm Don Quijote with Roque Guinart: The Case for an Ironic Reading] por Alison Weber
  
  
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Revisão das 16h23min de 5 de Maio de 2014


Um projecto do São Luiz Teatro Municipal

comissariado por Alvaro García de Zúñiga, José Luis Ferreira & Teresa Albuquerque



PÁGINA EM CONSTRUÇÃO !!!!!


Sessão 54 – Segunda, 12 de MAIO de 2014, 21:00 – Leitura dos capítulos 60 e 61 da Segunda Parte do Engenhoso Cavaleiro Dom Quixote de la Mancha."


A caminho de Bercelona – Roque Guinart – Cláudia Gerónima – a morte de Dom Vicente – a restituição do roubado – a equidade de Roque – o reparto do botim – a chegada a Barcelona.


TEMA : A lei e os fora da lei – Estado e anarquia - Barcelona







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links úteis :

CAPÍTULO LX

CAPÍTULO LXI

Don Quijote with Roque Guinart: The Case for an Ironic Reading por Alison Weber


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