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Edição actual desde as 11h54min de 22 de Junho de 2014
Um projecto do São Luiz Teatro Municipal
comissariado por Alvaro García de Zúñiga
Depois da Páscoa, continuamos a começar o 2º Livro !!!
Sessão 32 - Terça 2 de Abril 2013 - Leitura dos capítulos 5, 6 e 7 da "Segunda Parte do Ingenioso Cavaleiro Dom Quixote de la Mancha"
Na – como diz o autor – «discreta y graciosa plática» que têm Sancho e Teresa vamos encontrar uma diversidade estilística invulgar. E bem diz Cervantes "discreta", já que se trata de uma habilíssima argumentação de pontos de vista opostos que nos faz descobrir todas as variantes da dupla contraposição desprezo/estima e corte/aldeia; não menos "graciosa" pela “involuntária” caricatura do “cavalheiresco modo de falar” no qual se expressam os dois interlocutores e que faz deste capítulo um dos mais extraordinários exemplos de linguagem coloquial em literatura.
A discussão centra-se na argumentação e contra-argumentação do facto de Sancho vir acompanhar Dom Quixote na sua iminente partida para novas aventuras. Não é, claro, a ideia de impor a justiça na terra mas o desejo de lucro e ascensão social que levam Sancho a sonhar e perder contacto com a realidade; facto este último que, ao mesmo tempo, estabelece um paralelo surpreendente, já que o deixa em relação a Teresa, na mesma situação que Dom Quixote teve para com ele mesmo ao longo da saída anterior. Sancho não ouve as advertências de Teresa do mesmo modo que Dom Quixote não o ouviu diante dos moinhos, das ovelhas ou frente aos penitentes; e não só não ouve, como até parece que se toma pelo próprio, quando se põe a falar afectadamente tratando-a de mentecapta e ignorante.
Teresa acabara contagiada pelo modo de falar do marido e, ainda que em menor parte, pelas suas ilusões de grandeza. Deste modo pode-se dizer que tudo entra na ordem natural das coisas, já que, se Sancho volta a ter confiança em Dom Quixote e no mundo em que ele vive, Teresa – talvez com um bocado mais de sentido comum – a pesar dos seus protestos e queixas não desconfia de todo de Sancho...
Enquanto tudo isto sucede, ama e sobrinha vão tentar convencer Dom Quixote a ficar e não empreender uma nova saída. E Cervantes, de um modo divertido e inesperado, volta a dar-nos uma grande lição de teoria literária, já que, por trás dos argumentos da sobrinha e do tio encontramos o tema da importância da veracidade e do perigo que comportam os livros de entretenimento. Ante a intolerância da sobrinha, Dom Quixote contraporá o “conhecimento discreto” e a sua convicção que o homem é filho das suas obras, chegando incluso a citar Garcilaso.
Outro aspecto do diálogo entre a sobrinha e Dom Quixote é o de dar-nos a entender qual seria o perfil ideal do cavaleiro. Pouco depois, respondendo ao pedido de salário que ao voltar lhe faz Sancho, Dom Quixote explicar-nos-á em que consiste o do perfeito escudeiro.
Sansão Carrasco virá para encorajar Dom Quixote na sua profissão, animando-o a sair em busca de novas aventuras, ajudando os mais fracos e restabelecendo a justiça. Para ter tempo de fazer os preparativos necessários a nova saída fica fixada para dentro de três dias, acordam Dom Quixote, Sancho e Carrasco. Assim – mas sem nos esquecermos que este último tinha prometido à ama do fidalgo por remédio as andanças do cavaleiro; coisa que fica em suspense até dentro de oito capítulos – Dom Quixote e Sancho empreendem o caminho para a grande cidade do Toboso...
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